quarta-feira, 7 de novembro de 2007

VOCÊ SEMPRE DIZ A VERDADE?

É interessante observar o quanto o ato de dizer a verdade se confunde com ser uma pessoa autêntica. Há várias maneiras de se ser uma pessoa autêntica e sincera, assim como há várias maneiras de se dizer a verdade a alguém. Muitas vezes, percebo que autenticidade se confunde com grosseria e que dizer a verdade se confunde com ferir os outros por meio de palavras usadas inadvertidamente. Nesse sentido, verdade e autenticidade podem se tornar formas de violência.
Dizer tudo o que se pensa, por exemplo, não é ser necessariamente autêntico, mas pode ser um gritante sinal de imaturidade, inconseqüência e descontrole. Pois nem tudo o que pensamos ser verdade pode ou deveria ser dito a qualquer um e, muito menos, de qualquer modo. Deve existir um contexto, uma situação que propicie essa atitude e que a torne válida, onde aquele que ouve deve, de fato, estar preparado e querer ouvir.
Ser verdadeiro e autêntico consigo mesmo é sempre o primeiro e mais importante passo. Não se auto-iludir é uma atitude primordial para se estabelecer a verdade e a autenticidade nas relações com os outros. Agir baseado no medo ou na incapacidade de aceitar as coisas como são em realidade gera sempre violência, mesmo que de forma camuflada, velada e, a princípio, sutil.
Dizer a verdade sempre faz bem ao corpo e à alma e é fundamental. Ser você mesmo, apesar das opiniões e dos modismos em contrário, sempre dá mais trabalho e exige muito mais daquele que a isso se propõe. Mas, ao mesmo tempo, traz muito mais segurança, determinação, conhecimento, sensibilidade e paz de espírito.
Gostaria de colocar aqui que todos os grandes sábios sistematicamente esperaram ser questionados antes de dizerem as verdades mais essenciais e profundas da existência, e que, ao fazê-lo, procuraram agir sempre da maneira mais inteligível e sensível. Eles sempre procuraram unir a verdade à não-violência - o que não significa que suas palavras fossem sempre agradáveis.
Nesse aspecto, lembro-me de uma passagem narrada por Alice Christensen, no livro O Yoga do Coração, onde seu mestre Lakshmanjoo elucida bem essa questão ao lhe contar uma história sobre um sábio que morava numa floresta. Diz ele:
"Certo dia, o sábio viu um cervo correndo pelo caminho, e atrás do cervo veio o caçador. Este aproximou-se do yogi e perguntou-lhe se ele tinha visto um cervo e se sabia em que direção ele tinha ido. O sábio respondeu: 'Meus olhos viram, mas meus olhos não falam. Minha língua fala, mas ela não viu.' "
Por tudo isso, penso que esse seja o ponto exato, e mais apropriado a ser considerado, ao nos posicionarmos em relação à verdade, à autenticidade e à não-violência, especialmente quando lidamos com outras pessoas

Professor José Ricardo
Novembro/2007

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